sábado, 15 de março de 2008

Koji e a Flor de Cerejeira (Parte 3)

Boa tarde, amigos!

Hoje venho trazer a vocês a terceira parte do meu conto, intitulado Koji e a Flor de Cerejeira. Espero que gostem bastante. Todas as 4 partes do conto significam muito pra mim. Essa, em específico, é especial por causa das várias amizades que eu já tive e ainda tenho. Bom, espero que gostem. Essa parte do conto já dá uma idéia do que vem pela frente, do que irá tratar a última parte do conto.

Enfim, gostaria de aproveitar e desejar feliz aniversário a minha amiga Janaina, que está de aniversário hoje. Janinha, esse ano você não receberá um post inteiro em sua homenagem no meu blog. Além de você quase não entrar mais aqui (como um ano muda as pessoas), eu quero fazer algo diferente também. É melhor assim. Então esse ano você receberá coisas mais concretas, que estarão o tempo todo perto de você, em algum lugar do seu cantinho. É um pequeno pedaço de mim para você não me esquecer durante as semanas, ou até meses, em que não nos vemos. Espero que goste. Parabéns, muitas felicidades! Beijão!

Bom, abraço a todos os outros. E eis a 3ª parte do conto:

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Koji e a Flor de Cerejeira

Alex de M. Machado



Parte Três
Vitória na alvorada



Mas, ao contrário de todas as previsões sarcásticas de Hansuke, o jovem soldado Koji Kiyoshi saiu-se muito bem na guerra. Lutou bravamente no campo de batalha, matou mais inimigos do que a maioria dos outros soldados, salvou aliados feridos e numa certa ocasião vagou pelo campo de batalha aniquilando qualquer um que cruzasse seu caminho por ininterruptas trinta horas.

Perdeu as contas de quantas cabeças decepou. Perdeu as contas de em quantas cabeças tropeçou. E quase perdeu as contas de quantos amigos viu morrer. Ainda lembrava-se do número exato, porque era difícil esquecer a sensação. No entanto, não chorou nenhuma vez. Deixou seu coração em casa antes de ir à guerra. Seu coração ficara lá no vilarejo em que ele nascera e crescera, com todos que ele amava. E talvez tenha sido por isso, por tornar-se um guerreiro sem coração, que ele se saíra tão bem na guerra.

Agora, porém, com a guerra vencida, ele e seus companheiros de tropa sobreviventes voltavam para casa. Todos conheciam muito bem esse final da estrada. Todos, com exceção dele, choravam de alegria. Não, Koji nunca chorara de alegria. Mas ele estava alegre; mais do que muitos ali. Céus! Como era bom estar de volta. O outono se aproximava e o vilarejo estava lindo com as árvores tingidas de dourado. Faltava ainda um quarto de hora para o sol nascer e poucas pessoas vagavam pelas ruas, o que certamente contribuiu para eles serem logo vistos.

“Olhem, são eles! Os soldados voltaram!”, gritou um garoto que estava pegando água de um poço. Largou seu balde e foi correndo até aos soldados. Logo outros chegaram, chamaram mais outros, e em poucos minutos todos aqueles que há três estações atrás seguravam tochas e se despediam dos soldados que passavam em direção ao quartel agora estavam ali com cara amassada dando as boas vindas aos recém chegados.

E então começou um misto de gritos de alegria e de tristeza por parte de alguns soldados que reencontravam seus familiares e de familiares que não reencontravam seus soldados. Não muito depois, Koji avistou sua irmã vindo correndo e sua mãe caminhando mais atrás. Foi até elas, pegou sua irmã no colo e distribuiu-lhes vários beijos. Ambas choravam compulsivamente e nada diziam, mas não era preciso.

Os três então foram para casa. Sua mãe continuou sem dizer nada e tudo que sua irmã disse no caminho é que estava com saudades e que a cadela deles havia tido filhotes. Quando passaram perto da casa de Hansuke, encontraram sua mãe na frente da casa, cuja foi logo abraçá-lo também. Tinha um carinho enorme por ela, e ela por ele.

“Hansuke sentiu muito sua falta. Estávamos todos muito preocupados. Ficou meses dormindo muito mal. Passou a dormir melhor apenas há uma semana atrás quando um mensageiro nos informou que a guerra estava praticamente vencida e que você estava vivo. Espere aqui que vou acordá-lo”, disse ela já se virando para entrar na casa.

“Não, senhora, por favor, deixe que durma. Ele odeia ser acordado. Quando ele se acordar, diga que eu estou em casa e que estarei esperando uma visita.”

“Tem certeza? Ele adorará vê-lo.”

“Sim, tenho. Não há porque ter pressa. Está tudo bem agora e eu estou de volta”, disse ele dando um grande sorriso.

“Está bem, então. Venha jantar conosco esta noite.”

“Não sei, senhora. Há várias pessoas que quero rever ainda hoje e acho que todas me convidarão para jantar”, respondeu ele ainda sorrindo bastante. E então os três continuaram caminhando.

Quando chegou a casa, Koji primeiro tirou de um bolso um pergaminho todo dobrado e todo sujo e o colocou com cuidado em cima da sua cama, e depois do outro bolso tirou um pedaço de carvão pontiagudo e o depositou ao lado. E então tirou a vestimenta rasgada, suja e fedida que usara na viagem de volta e tomou o banho mais demorado da sua vida.

Depois do banho, após muitos meses, colocou uma roupa limpa e tomou café da manhã com sua família. Logo em seguida se preparou para sair novamente. Pegou o pedaço de pergaminho e, depois de refletir um pouco, decidiu pegar também o pedaço de carvão e colocou-os nos bolsos. E saiu de casa. Não caminhou nem dez metros e parou. Lá vinha Hansuke, caminhando depressa rumo a sua casa, com olhar fixo no chão. Parecia que falava sozinho e tinha os olhos cheios de lágrimas.

“surpreende... Não me surpreende mesmo. Claro que iriam deixar o Hansuke por último de novo. Quem se importa com o Hansuke? O vilarejo inteiro já sabe, menos o Hansuke. Nem para passar na minha casa e ver se o Hansuke está bem, como passou Hansuke? Sonhou com os anjos?”, e nesse momento ele viu Koji e percebeu que ele estava olhando-o. Fingiu que não percebeu e começou a falar mais alto.

“Quanta ingratidão. Quando aparece aquele palerma do Fuyuki para falar mal, quem é que defende? Quando a irmãzinha está tristinha porque o irmão nunca volta, quem é que a anima? O Hansuke. O Hansuke está lá sempre que todos precisam. Mas, para avisá-lo que os soldados voltaram, coisa que eu estava esperando desde que eles foram embora, porque eu fui o último a vê-los partir, sim, sim, eu fiquei lá sentado na lama esperando para vê-los partir e ninguém quis mais vê-los voltar do que eu e quem estava lá para avisá-lo que eles voltaram? Ninguém! E o imbecil ainda passa na frente da minha casa e nem me chama. Ah, coitadinho do garotinho, deixa ele dormir mais um pouquinho. Que ódio! E o pior é que sou obrigado a ouvir o obtuso do Huyu dizendo que eu sou a pessoa mais ignorante do mundo porque eles já chegaram há horas e todo mundo com exceção do Hansuke já está sabendo.”

“Chegamos há uma hora”, disse Koji sorrindo.

“Seu tolo!”, gritou ele. Então o alcançou e o abraçou com força. E sem soltá-lo, continuou falando alto e chorando. “Senti muito sua falta, sabia? Não sabe o quanto esse vilarejo é supérfluo sem você. E eu sabia que ia acabar com eles”, e então disse algum palavrão que Koji não conseguiu entender direito porque o choro já o impedia de falar. O abraço foi longo e ambos estavam felizes. E até onde Koji se lembrava, esse era o primeiro abraço que dava no seu melhor amigo desde que se conheceram. Eram amigos há anos, mas ele não sabia por que razão jamais o havia abraçado.

“Meu ídolo e meu irmão”, disse Hansuke soluçando e ainda sem soltá-lo. “Eu disse que você iria acabar com todos eles, mas ninguém acreditou. Agora eles têm o que merecem, porque minha mãe disse que o general falou que você foi um dos melhores soldados na guerra e que ganhará uma medalha de honra e será promovido a oficial.” Essa era uma novidade para ele. E ele não estava nem um pouco inclinado a aceitar. No entanto, mudaria de idéia antes do sol nascer novamente.

“Hansuke, é muito bom ver você novamente”, disse ele. “Melhor ainda é saber que continua o mesmo”, e começou a rir. O amigo finalmente o soltou e sorriu.

“Ei, Koji, meus parabéns! Falaram que você foi incrível”, disse um garoto do tamanho de Hansuke que passava por eles carregando um saco de arroz.

“Sim, Yamato, agora todos vão ter que mostrar respeito na frente do meu amigo aqui”, respondeu o sorridente Hansuke. Depois, virou-se para Koji. “Venha, vamos dar uma volta por aí”, disse ele dando uma piscadela.

E eles caminharam bastante pela vila, e todos que os encontravam elogiavam o jovem soldado Kiyoshi e sua grande bravura. E quem mais sorria de puro orgulho era o mais jovem ainda Hansuke. Ao chegarem a um bosque, Koji parou de repente e ficou imóvel.

“Veja, Hansuke. Que linda paisagem.”

O amigo riu. À sua frente estava o bosque que ele, Hansuke e outros garotos usavam há não muito tempo para brincar. Já havia se esquecido completamente desse bosque, e principalmente de quão bonito ele fica quando todas as suas árvores estão com as folhas amarelas, douradas e vermelhas. Como era incrível ver tudo isso após conhecer a morte, respirá-la, vivê-la e sobreviver a ela.

“Momijigari, samurai! Ainda é outono!”, respondeu ele e saiu correndo em direção ao bosque, chutando os montes de folhas que já estavam no chão e jogando-se por cima de outros. Koji foi atrás dele e fizeram uma guerra de folhas mortas. Sem cabeças pelo chão. Depois, deitaram-se nas folhas e ficaram conversando, colocando o assunto em dia. E, inevitavelmente, Koji acabou lembrando-se dela, a verdadeira razão dele ter saído de casa logo após comer. Como pôde se esquecer?

“Como pude me esquecer? Hansuke, preciso ir. Depois nos falamos. Preciso vê-la”, disse ele levantando-se.

“O quê? Não, fique mais um pouco. Ainda está cedo”, respondeu ele se mexendo sobre as folhas secas e fingindo estar adorando o som que faziam.

“Preciso ir, amigo. Talvez eu vá jantar na sua casa esta noite, mas de qualquer maneira eu passo por lá para fazer uma visita.”, virou-se e foi caminhando.

“Não, espere”, disse Hansuke, mas sem força na voz. Sabia que nada impediria o amigo de ir em frente. Mas, as coisas estavam tão bem ali naquele bosque. Eles estavam tão felizes. Por que ele não a esquecia?

Por que o tempo não parava?

Um comentário:

Ceci disse...

Oiiiiiiiii....aqui eu de novo!! depois de alguns dias neh??...

Sabe que da primeira vez que li não tinha notado uma coisa que notei agora???...o Hansuke se parece comigo!!! jajajajajaj...mesmo, me identifiquei com o jeito dele...e com a maneira de falar dele em terceira pessoa também! muito legal!

Ter uma amizade assim é muito bom, mas ai parece que existe um pouco de Ciúme neh??...coisa normal acho...

Ah...tem algumas palavrinhas que vc devia colocar o significado (porque acho que são em outra lingua que não é portugues neh??)

Gostei!

Beijo!