quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

As Crônicas de Nárnia


Boa tarde, pessoal! Vim aqui falar de mais um livro que termino de ler. E o post é grandinho. Pode-se dizer que é um artigo sobre o livro huahuahauhauha. Um review, digamos assim.

Enfim, depois de 1 semana e meia lendo, ontem terminei o volume único d'As Crônicas de Nárnia. O livro tem 752 páginas, que consistem em todos os 7 livros da série e mais um pequeno capítulo em que o autor fala sobre escrever histórias para crianças. Se você contasse o número de páginas dos livros originais separados, veria que o resultado daria bem mais de 750. Talvez o dobro disso. Acontece que, como são livros infantis, os originais tem letra maior e menos linhas por página. Quando compilaram todo o material nesse volume único, diminuiram o tamanho da fonte para o tamanho habitual de livros como Harry Potter e as Relíquias da Morte, e também colocaram mais linhas por página. O resultado é um livro de 750 páginas com 7 livrinhos dentro, com número de páginas variando de 90 a 120.

Bom, como eu já havia lido O Dom da Amizade, de Colin Duriez, no qual o autor descreve muito sobre a forma de escrever de Lewis e sobre seus gostos, crenças, etc, ler agora a obra mais famosa de Lewis é como se aprofundar 1000 vezes no assunto. Se lendo aquele livro eu tinha uma vaga idéia das alegorias (entenda como parábolas, se você preferir) de Lewis, agora as entendo perfeitamente. É uma obra que reúne as 3 caractéristicas mais marcantes do autor: sua crença cristã, seu gosto por alegorias e sua paixão por contos de fadas. Tudo o que ele fez foi criar um mundo de fantasia, com crianças que embarcam em inúmeras aventuras, e encher a história de alegorias para passar para seus leitores baixinhos a moral por trás de toda a fé cristã.

Para quem não está entendendo, vou explicar do princípio todas as 3 características marcantes dele e que estão presentes n'As Crônicas de Nárnia. (1) C. S. Lewis, na época em que escreveu a série, era um fervoroso cristão, e como passou mais de 1/3 da vida sendo ateu, ele achava que tinha a missão de passar a mensagem divina para as pessoas, abrir a mente delas para que, assim como ele, todas enxerguem as maravilhas da fé cristã. E, apesar de ser filósofo, escritor e professor de literatura e inglês há mais de 20 anos numa das principais universidades européias, Lewis embarcou numa nova aventura pessoal. Tornou realidade essa missão e começou a fazer programas de rádio, nos quais basicamente tentava convencer as pessoas a crer no deus que ele amava.

(2) Apesar d'As Crônicas de Nárnia terem sido sua obra mais famosa e certamente a única razão de eu conhecê-lo, é verdade que foram talvez sua obra menos importante. Lewis escreveu inúmeros outros livros. A maior parte deles era sobre o cenário que ele mais gostava de inserir o assunto das suas aulas da faculdade de inglês de Oxford. Ele adorava fantasia, contos de fada na sua definição mais abrangente e menos preconceituosa. E achava que contos de fada não eram apenas para crianças. E, junto com Tolkien (autor d'O Senhor dos Anéis), tentava mudar a mentalidade das pessoas e fazer os adultos voltarem a gostar de contos de fadas, porque acreditava que antigamente, na época de Artur e Excalibur, as obras de fantasia era feitas principalmente para os adultos. Obviamente, ambos sofriam muitas críticas a respeito disso, e a nota no fim do volume único que li fala abertamente sobre isso.

Porém, (3) uma outra parcela dos livros que Lewis escrevia, menor mas não menos importante, era sobre literatura e filosofia mesmo. Livros didáticos, cujos até hoje são muito usados no estudo da literatura no mundo todo, especialmente na Grã-Bretanha. Esses livros falavam, dentre outras coisas, do uso de alegorias. Lewis adorava essas alegorias e escreveu apenas 1 livro na vida sem usar delas. Essas alegorias consistiam em se pôr no texto elementos com um significado oculto, com a intenção de passar uma moral. Por exemplo, Lewis escreveu um livro em que o protagonista se vê enfeitiçado por uma máquina, um robô que corrompe seu coração, e principalmente sua razão, consumindo-o por dentro. Isso por ser muito bem relacionado ao desgosto que Lewis sentia pela literatura moderna. Ele achava que o modernismo iria fazer exatamente isso com as pessoas no mundo real: enfeitiçá-las e corrompê-las. Ou seja, ele insere elementos com uma moral por trás da história, com um significado oculto, sempre tentando passar uma mensagem.

Passar uma mensagem. Sim, passar uma mensagem. Nem preciso dizer que não tardou muito até Lewis começar a passar a mensagem da fé em cristo como alegorias escondidas nas suas obras. Ele escreveu vários livros assim. Até que teve uma idéia ambiciosa. Inspirado pelo mundo de Tolkien (cujo até o momento tinha lançado apenas o despretencioso O Hobbit, mas já havia escrito muito d'O Senhor dos Anéis e sempre mostrava os manuscritos para Lewis ler), Lewis também criou seu mundo de fantasia, e ao contrário de Tolkien, resolveu escrever uma história especialmente (mas não exclusivamente) infantil, porque achava que era nas obras infantis que ele teria a maior facilidade de passar a grande mensagem que pretendia passar. E então pôs em prática o que o tornaria, postumamente, tão famoso. Escreveu 7 livros: infantis e cheios de alegorias que passam a mensagem divina para seus leitores.

Porém, é bem verdade que só um leitor mais crescido, digamos assim, consegue captar todo significado por trás da história. E é isso que me faz pensar que Lewis escreveu uma história infantil apenas porque é o meio mais fácil de passar sua mensagem, mas no fundo, seu público alvo eram os adultos. Tenho algumas razões para acreditar nisso também. Enfim, era isso que eu tinha para explicar. Lewis transformou sua série de livros infantis numa bíblia pessoal, de tantas alegorias que se encontra nelas.

Num dos livros, mostra como o mundo foi criado, de forma bem cristã. O mundo então recebe um rei, Aslam, filho do grande Imperador de Além-Mar, cujo é simplesmente um animal, um leão. Aparentemente, um mero animal. Assim como todos os outros animais de Nárnia. Aslam é o líder do povo, o bem encarnado num leão. Não vou contar a história, mas só para vocês captarem as alegorias, vale dizer que durante os 7 livros, Aslam é traído, sacrifica-se para que seu povo não perca algo de importante e depois ressuscita. Mais de 1000 anos depois, as pessoas não acreditam mais que ele exista, dizem que o fato dele ressuscitar era simples bobagem, depois Aslam volta a aparecer, mas só para aqueles que realmente acreditam na existência dele, e por fim acaba até ressuscitando alguém. Aslam também sempre conversa com aqueles que fazem coisas de errado, e sempre age em prol de um mundo mais justo. Perdi a conta de quantas vezes as pessoas se confessaram para ele durante toda a série, sempre sendo tratadas com frases carinhosas e serenidade, chamando até seus inimigos de "querido", "amado". E ele nunca, nunca ignora o pedido de alguém que o ama. Enfim, compreendem que na figura de Aslam, Lewis descreve alegoricamente inúmeras passagens da bíblia? Chega a ser engraçado, porque toda atitude de Aslam, desde uma simples palavra dita até um decisão importante, tudo o que ele faz são coisas que eu, durante meus anos de comunhão, via claramente Jesus fazendo. Ele não faz nada que não se possa ser traduzido para algo que a bíblia e a igreja dizem que Jesus fez.

E essas são As Crônicas de Nárnia, um livro cheio de elementos cristãos, induzidos num mundo de faz-de-conta que, apesar de não ser completo como a Terra-Média, é também de tirar o chapéu. A história em si, ignorando as alegorias, é muito boa, mas senti em 1 ou 2 livros que a história estava infantil demais, ou então, sem muita criatividade em alguns pontos. Porém, há também 2 ou 3 livros que achei fantásticos, muito bons, com enredos ótimos. É de qualquer maneira uma série que recomendo a todos, mas não tão ambiciosa quanto eu imaginava que fosse.

Bom, é isso que eu vinha falar hoje.
Volto qualquer hora com mais.

Abraço!

3 comentários:

Ceci disse...

Oi!!!
Um livro mais que voce termina de ler, realmente sao tantos, mas tantos neh??

Sabe, nao sei se vc percebeu, mas eu posso notar que vc investiga sobre os autores dos livros que lê.

Bom, dessa vez vc até leu um livro que fala do autor, mas mesmo assim, eu já tinha notado antes que vc procura saber, procura informaçao das coisas que fala, e é porque gosta neh??

Parece interessante a história e, tal vez....depois de ter lido os livros que ainda tenho ai u.u" posso até pensar em ler esse jajajaja...

Um beijo grande!

Anônimo disse...

Você já podia se candidatar a crítico literário ou a Academia Brasileira de Letras, né?
\o/

Acho que disposição pra isso você tem, suas resenhas às vezes são muito mais reveladoras (e não me refiro a spoilers) do que a de uns caras que são pagos pra fazê-las.

Congrats!

Unknown disse...

Então, eu li também e percebi essas coisas... mas acho que a obra dele fica um tanto quanto aquém quando comparada a de Tolkien quanto a riqueza de detalhes.
Por exemplo, o lance dele com o tempo não foi bem explicado (na minha opinião, talvez não tenha entendido...); a questão de sempre as crianãs chegarem como uma forma de esperança e salvação para momentos dificeis e serem consideradas como Reis e Rainhas, porque elas não eram simplesmente guerreiros que poderiam ter algum significado para a história de Nárnia, a Suzana que foi uma das rainhas não voltar mais também foi uma coisa que não foi muito explorada.
No livro "O Cavalo e seu Menino" quem quisesse voltar para a terra voltaria através de um portal, isso de alguma forma significa que a Terra era melhor do que Nárnia?
Gostei bastante da forma de escrever de Lewis, acho que são livros que deixam a imaginação viajar bastante...porém, assim como as Religiões Cristãs, ainda faltam muitas coisas para serem explicadas.

Flws.