quarta-feira, 28 de março de 2007

Amor verdadeiro e Childe Roland

Ai ai... Já ensaiei 2 inícios para esse post. Primeiro escrevi "Puta que pariu! Que dia de merda!". Achei muito vulgar. Depois pensei só em "Caralho, que dia!", mas foge um pouco do tema do blog. Por fim decidi dizer que tentei 2 besteiras só. E além do mais, esses inícios não resumiriam realmente como foi o dia. Porque, como um grande amigo meu disse, as pessoas só guardam de recordação o melhor, o primeiro e o último momento do que fazem (acho). E esses termos apenas se aplicam ao último.

Bom, vim falar de amor verdadeiro e vim trazer o último trecho do poema. Depois disso eu comento um pouco sobre o dia e sobre o meu azar de hoje. Para começar, vou falar de amor. Amor é uma coisa estranha né? É algo tão intrínseco dentro da nossa cultura e ao mesmo tempo recebe definições e interpretações bem diferentes de uma pessoa pra outra. Alguns simplesmente acreditam que o amor é apenas afeto, e dizem que amam todos à volta. Outros afirmam que amor nem mesmo existe. E achar uma definição válida para amor verdadeiro talvez seja possível apenas nos versos sinceros de um poeta eternamente apaixonado.

Bom, Camões disse que "amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que doi e não se sente, é um contentamento descontente e é dor que desatina sem doer". Alguém não entendeu o que Camões quis dizer? Vejamos a definição indireta de um trecho de uma música: "O que conduz agora é a vontade de ver coisas novas. E nem tudo que é novo é bom, e nem tudo que é belo faz bem. Como o amor.". Por último, leiam esse trecho do livro que estou lendo no momento:

"O verdadeiro amor, como qualquer outra droga forte que cause dependência, não tem graça. Assim que a fase do encontro e descoberta se encerra, os beijos se tornam surrados e as carícias cansativas... exceto, é claro, para aqueles que compartilham os beijos, que dão e recebem as carícias enquanto cada som e cada cor do mundo parecem se aprofundar e brilhar em volta deles. Como acontece com qualquer outra droga forte, o primeiro amor verdadeiro só é realmente interessante para aqueles que se tornam seus prisioneiros. E como acontece com qualquer outra droga forte que cause dependência, o primeiro amor verdadeiro é perigoso. Os que estão sob o domínio de uma droga forte - heroína, erva-do-diabo, verdadeiro amor - freqüentemente se vêem tentando manter um precário equilíbrio entre discrição e êxtase, enquanto avançam na corda bamba de suas vidas. Manter o equilíbrio numa corda bamba é difícil até mesmo no estado mais sóbrio; fazer isso num estado de delírio é praticamente impossível. A longo prazo, é completamente impossível."

Pronto, acho que com essas citações já estou pronto para falar de amor. Acho o amor um sentimento mais abominável que o ódio. É um sentimento que luta contra todos os princípios naturais do ser humano, assim como o ódio luta contra todos os princípios sociais do homem. E lutar contra o natural é quase sempre em vão. O homem não foi feito para amar. Mas o ódio se encaixa no homem como uma luva se encaixa numa mão. Nobres são os que vencem a luta contra os princípios naturais. Normais são os que nem tentam lutar.

Amor verdadeiro para mim é um conjunto de 2 sentimentos. Amizade e paixão. Se não há doses sustentáveis de amizade e paixão numa relação, então não é amor. É assim que eu penso. A amizade pode muito bem durar para sempre. E a paixão é mais momentânea. Às vezes aumenta, às vezes diminui. Mas nunca pode acabar. Acho que se uma relação começa com paixão, se não surgir amizade logo, a paixão pode diminuir e a relação acabar. Portanto, amor de histórias de ficção, de acordo com essa minha definição, é impossível durar muito. Porque geralmente começa do nada, e não é algo que vai surgindo aos poucos. Mas, por que eu to citando isso? Porque os contos de fadas são situações exclusivamente felizes criadas pelo homem. É dessa forma que o homem vê a felicidade? Pois se for, só comprova que o homem interpreta muito mal seus sentimentos. E talvez esteja aí a resposta para haver tantas definições para amor.

Bom, vamos imaginar agora alguém que jura amor eterno a outra pessoa e algum tempo depois (vamos supor um tempo significativo, senão é sacanagem) acaba terminando a relação. Eu acho que em nenhum momento a pessoa mentiu. Quando jurou amor eterno, estava ciente de que aquilo que estava sentindo realmente seria eterno. E quando terminou a relação, realmente estava certo de que aquilo havia acabado. Porque uma consequência desse sentimento abominável é falta de visão (aliás, "cegueira" é sinônimo de "paixão"). Quando você está apaixonado você simplesmente vê sem querer apenas o que quer ver, e superestima sem querer tudo aquilo que se refere à pessoa que você está "amando".

É isso que eu tenho convicção de ser verdade. E isso está bem claro no trecho da música que eu passei, na parte "nem tudo que é belo faz bem". Ou seja, o suposto amor faz você achar beleza em algo feio. Ou pior: faz você ver beleza onde nada existe e não ver nada onde há muita coisa feia. Já Camões acho que definiu com perfeição a "paixão", enquanto o trecho que passei do livro comenta os 2 lados do amor que eu citei e ainda fala da cegueira que tira a sobriedade das pessoas, além de também citar os altos e baixos da paixão. Ele resume bem o que eu quis dizer.

Bom, esse é o meu lado de ver a coisa. Queria que vocês comentassem e aprimorassem minhas conclusões. Porque eu simplesmente estou disposto a mudar de opinião ou aceitar outras idéias. Decidi postar sobre isso porque to lendo muito sobre isso no livro que to lendo e também porque estive pensando nisso hoje a tarde enquanto não fazia nada. Agora vou colocar o último trecho do poema:

XXX
Veio a mim de imediato, como fogo em um milharal,
Era este o lugar! À direita, esses dois morros, agachados,
como dois búfalos com os chifres enganchados;
Enquanto à esquerda, uma montanha alta... Boçal,
Imbecil, vacilar logo na hora mais crucial,
Você que treinou uma vida para ter olhos afiados!

XXXI
E se a própria Torre estivesse no centro? Redonda
e atarracada, cega como um coração rasteiro,
Feita de pedra marrom, sem igual no mundo inteiro.
O elfo, caçoando da tempestade que o ronda,
Aponta ao timoneiro o banco que ninguém sonda.
Ele aporta, por pouco não rompendo do casco o madeiro.

XXXII
Não vê-la? Talvez por conta da noite? - se o dia
Ressurgiu para isto! E antes de partir novamente
O poente brilhou por uma fenda rente:
As colinas, como gigantes caçadores na tocaia,
Esperando que a presa na armadilha caia -
"Agora ataquem e matem a criatura, inclementes".

XXXIII
Não ouvi-la? Com tantos sons à volta! O ribombar
dos sinos cada vez mais alto. Nomes nos meus ouvidos
Todos os aventureiros, meus companheiros perdidos -
Como, se um era tão forte, outro de tão corajoso bradar,
Outro tão afortunado, como foram perdidos acabar?
Um instante trazia tantos anos de sofrimentos renascidos.

XXXIV
Ali estavam eles, pelos lados dos montes, unidos
Para assistir meu fim. Eu, uma moldura animada
Para mais um quadro! Numa súbita labareda
Eu os vi e reconheci a todos. E, destemido,
Deixei meus lábios formarem um bramido:
"Childe Roland à Torre Negra chegou", foi minha chamada.

Esse é o fim. Espero que tenham gostado. Quero que comentem o poema também. Agora, antes de ir, vou falar um pouco do meu dia. Que bom que não escrevi aquelas coisas no início, porque minha cabeça já esfriou um pouco e não to mais com vontade de falar aquele tipo de coisa. Bom, hoje fiquei 50 minutos num ônibus, em pé, sem pilha no mp3 e apoiando o corpo num pé só. Doeu, cansou, estressou muito. Tudo porque, sei lá porquê, o túnel que meu ônibus passa quando vai pro centro foi interditado hoje por uma meia hora. E aí meu ônibus teve que atravessar o morro pela avenida antiga, que dá a volta no morro. E, bom, como se isso não bastasse, essa avenida antiga tem 1 pista só. E eu peguei o ônibus 18:00... Bem na pior hora. Resultado: o trajeto que demora 10 minutos às 23:00, 15 no meio da tarde e 25 no horário de pico, hoje durou 50 minutos.

Em mais de 1 ano e meio de faculdade, isso foi acontecer justo quando eu to apoiando o corpo num pé só, justo num dia que eu to na UFSC o dia todo, justo num dia que to sem pilha no MP3 e fiquei em pé no ônibus (porque peguei ele num ponto mais perto do CTC, pra não andar muito até o melhor ponto). E ainda depois peguei outro ônibus até a minha casa e mais uma vez fiquei em pé, mas esse durou o tempo de sempre pra chegar, cerca de 30 minutos. Enfim, cheguei bem estressado e cansado =/.

De qualquer maneira, o meu dia não foi só isso. As aulas foram legais até. Bom, é isso. Boa noite a todos. Abraços. Volto de novo numa hora melhor. Até.

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Frase do dia: "Se alguém não entendeu, foda-se!" - meu professor de Cálculo 3.
Pensamento do dia: "Ah, então é por isso que o ser humano tem 2 pés."

5 comentários:

Unknown disse...

Vou fazer uma pergunta muito importante: Por que brincar de saci no ônibus? Se apoiava com os 2 pés né! =p só pra descontrair...

Bom, falar de amor... uma coisa tão simples, mas tão complicada ao mesmo tempo. Sim, realmente estranho... e pra falar a verdade verdadeira, não é um assunto que eu goste de falar muito, prefiro sentir (como eu to "engraçadinha" hj auhuhahu). Mas o que importa é que eu acredito no amor. Só acho que existe vários tipos, acho que eh por isso que é tão difícil de explicar o que é, como acontece e tal...

Acredito em amor à primeira vista, à segunda, terceira, à milésima...
Acredito que quando acontece pode acabar, mas não passar nunca.

Concordo com você sobre o conjunto dos 2 sentimentos: paixão + amizade, apesar de muitas outras coisas entrarem no meio disso... E também concordo com o negócio que falou sobre amor eterno, concordo plenamente, mas se for uma coisa do dia pra noite é porque de verdadeiro não tinha nd.

Só pra complementar, acho que faltou isso aqui =)

“De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zêlo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e darramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contetentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, pôsto que é chama
MAS QUE SEJA INFINITO ENQUANTO DURE.”

Vinicius de Moraes - Soneto da fidelidade

=) adoro esse final
Vai ficar grande esse comentário uhauhahua

Bom, quanto ao poema, o que posso dizer? Gostei =) apesar de sempre ter meio que uma preguiça (jura?) de ler hauuhahuahu

Vou indo senão falo demais aqui, melhoras pro seu pézinho =) se cuida hein! tô só de olho nesse seu prazo...

;*****

Ceci disse...

Vai acreditar que nessa data...um 28 de março, há 6 anos, o Dennis e eu começamos a namorar???. Este post é bem no dia do meu aniversário com ele jajaja, engraçado neh?
Bom, falando do amor, eu não sei o que você quer dizer com os princípios naturais do ser humano, aqueles contra os que luta o amor(esperarei vc me explicar).
Eu nem sei dizer exatamente o que é o amor, e isso depois de 6 anos..mas não é porque eu não sinta, é porque para mim não tem um significado, tem vários, e não são só significados senão coisas que acontecem, que estão por trás do que se sente.
E sabe, aquilo que falou sobre as pessoas que ficam falando que amam todo mundo, pois eh! eu penso o msm sim!, eu não consigo sabe? so tenho falado isso para uma pessoa em toda a minha vida (nem precisa dizer quem neh?), e isso não porque eu não ame minha familia, meus pais, meus avós só que, no Perú pelo menos, não é normal falar isso sempre, só ao namorado, noivo, esposo etc etc...então fica aquele "te quiero mucho" para as pessoas que você quer de verdade, com o coração, isso tb não se fala sempre, isso é para a familia por exemplo.
Eu não sei muito a razão dessa diferencia, acho que é porque o amor é diferente neh?, mas não quer dizer q eu vou querer mais o menos ao meu pai o ao meu namorado, é só que é diferente.
Para mim o amor é a soma de muitas coisas, entre elas estão o carinho, a amizade, a confianza, a cumplicidade, o sorriso, a alegria, a tristeza as vezes (compartida), a admiração, o apoio....e va indo!!
tudo isso vai somando, não existe uma unica coisa que se conheça como amor, mesmo porque se for assim, acabaria na hora neh? tem que ser um monte de coisa porque quando tem aquela debilidade em uma, a outra o mantém ainda até melhorar naquela que estava débil....já quando tudo fica ruim...bom, termina neh?
Ninguem começa uma relação pensando que vai acontecer aquilo, e para evitar isso é importante cultivar cada coisinha.
Sobre a paixão, acho que vai nascendo, bom depende da pessoa neh?, mas eu acho que é o passo seguinte à amizade, e vai se fortalecendo com o tempo.

Respeito ao seu dia...que azar o seu!!!...e eu ja falei para vc não deixar esquecido aquele pé e use ele!!! mesmo doendo, isso ajuda a melhorar...quando vc não usa ele o deixa mais fraco...bom, espero que fique bem logo!

Ahh e gostei daquele final do poema que colocou a jana!!...e do que vc colocou no inicio tb jajaja, aquele de Camões.

E aqui tem um bonitinho tb

Amar não e olhar um para o outro e sim olhar os dois para a mesma direção.

Não lembro o autor.

Beijão.

Ceci disse...

Agora estou em diaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee jajaja

Anônimo disse...

"Bom, vamos imaginar agora alguém que jura amor eterno a outra pessoa e algum tempo depois (vamos supor um tempo significativo, senão é sacanagem) acaba terminando a relação. Eu acho que em nenhum momento a pessoa mentiu."
Você foi perfeito nesses dizeres. Indiretamente, não sabe o BEM que isso me fez.
Thanks.

Bom, antes de me prolongar sobre o amor, essas peripécias do destino fazem-nos lembrar que não há situação ruim que não possa ser piorada. É o típico dia em que temos a sensação que não deveríamos sair da cama, em que dá tudo errado e que, no final, se você não quiser pensar/falar palavras de baixo calão, sentencia: que dia!

A poesia fechou de forma bem agradável e conhenho que um post unitário com todos os versos seria melhor. Ao término dela, muito do que o autor propôs em imagens e idéias soou mais coeso agora, enquanto que em leituras picadas, os pormenores ficaram mais desconexos.
Mas nada que um trabalho de releitura não ajude hahahaha

Ao amor.
Ai amor!

As palavras de Camões, para mim, referem-se a paixão e ponto. Paixão é fogo que arde sem se ver e que se apaga, ou não. Mas a possibilidade de se apagar é realmente o que a difere do amor.

De quem é essa música?
Enfim, fala muitas verdades. O sabor da novidade costuma ser atraente, mas nem sempre é bom. E não é só de imagens que vivemos.
Sucinto, porém, contundente.

Já o trecho do livro, apesar de poder parecer repleto de frialdade para uns e outros, soa bastante real, bastante natural. Sóbrio, sóbrio!

"Biologicamente falando", amor pode ser simplesmente um recurso da natureza para prover o acasalamento e manter, assim, a continuidade da espécie. Incluso aqui a necessidade de proteção da prole e blablablá.

Também já foi constatado que paixão é um fenômeno hormonal que pode durar até dois anos. Hormônios = proteínas ou lipídios = chemistry.

O homem é, por natureza, poligâmico. Sendo que essa idéia de amor ágape (de sacrifício, de amor único a uma única pessoa, eterno, fidedigno, incomensurável e inesgostável e blablablá) foi um conceito criado pelos gregos.

Essas citações possuem embasamento científico =/

Para mim, amor pode ser tudo isso, pode ser nada disso, pode ser um pouco disso, muito disso...e no fim, um conceito que não posso conceituar e que talvez ninguém possa. Amor é simplesmente intransitivo, único, meu, seu, dele, dela e dificilmente igual ao meu, ao seu, ao dele ou ao dela.

Anônimo disse...

Aaaaah, faltou dizer que sentir a falta de algo ou alguém é sempre um bom indicador, um bom sinal. Para que eu não posso dizer com firmeza em 100% das situações, mas pode ser sim um bom sinal.

Diga-se de passagem, só damos real valor as coisas (e ás vezes até damos valor, mas não com tamanha intensidade como deveríamos) quando as perdemos.

E sim, também me atualizei. =)